Objetivos

Objetivo Geral:
Identificar o perfil dos usuários do traje sport fino.

Objetivos Específicos:
Descobrir com que idade os homens começam a consumir este traje;
Saber a frequência com que usam roupas deste estilo;
Conhecer as marcas de roupas da preferência masculina.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Entrevista sobre Consumo com o Psicólogo e Professor Universitário Túlio Valente

Casado há 18 anos, tem 2 filhos, é montanhista, psicólogo e professor universitário, Túlio Valente participa de uma entrevista sobre consumo.

- Atualmente, como você avalia o consumo de moda no Brasil e no mundo?

                Bom, em primeiro lugar, e acho que isso é bastante visível, não sou o que se poderia chamar de consumidor de moda. Então, qualquer coisa que eu disser a respeito deve ser considerada em relação a esse dado inicial. Não obstante, pode-se observar certos fatos curiosos no que diz respeito a esse tipo de consumo.
                Hoje a moda se faz presente em praticamente todos os espaços da vida cotidiana, extrapolando em muito o que seria considerado seu espaço clássico ou específico – vestuário, calçados e adereços – e aparece às vezes até como uma marca cultural. Assim a moda se faz presente naqueles espaços e naquelas dimensões onde menos se podia suspeitar em que ela se imporia: roupas de cama, mesa e banho; utensílios de cozinha; louças e metais dos serviços de refeição; mobiliário, iluminação de ambientes, uniformes e material escolar, lazer, esporte, etc.
                Só para exemplificar, pode-se observar que, talvez muito em função da difusão da TV por assinatura, tem crescido bastante o interesse pela prática do tênis, tido, até a não muito tempo, como esporte de elite. E isso não se deve apenas à disseminação da TV por assinatura: o próprio barateamento do material necessário à prática desse esporte, fruto do desenvolvimento tecnológico em tecidos, fibras e outros materiais, e o crescimento vertiginoso da indústria do entretenimento são elementos coadjuvantes nessa difusão de um esporte que sempre terá seu lado glamuroso. Pois bem, quando se entra num ambiente, um clube, por exemplo, em que há praticantes de tênis, o que se pode observar é que vários, senão todos eles, envergam aquelas roupas, calçados e adereços próprios para a sua prática, usam raquetes dos mesmos modelos dos campeões, levadas em raqueteiras cujo tamanho é proporcional à quantidade de raquetes que transportam. Cada um escolhe seus modelos e cores preferidos. Isso não faz deles campeões. Mas é visível que eles se tornam um grupo à parte.
                Nisso se pode ver um dos paradoxos da moda: quanto mais esse grupo se julga exclusivo, mais ele se diferencia dos outros grupos, e, ainda que cada um de seus membros faça suas escolhas sobre o que usar e o que não usar, de fora o que se vê é que eles parecem usar um uniforme para jogar, competir e brincar. Ou seja, a moda simultaneamente diferencia e destaca os indivíduos da multidão e uniformiza os grupos.

- O que você acha que mudou de dez anos para cá?

                Bom, em termos de moda, nos últimos dez anos, parece que se acirrou um fenômeno que já estava presente na virada do milênio que é a grande oferta de estilos e tendências.
                Na mesma medida em que as pessoas se esforçam para encontrar uma expressão própria, particular, que as faça reconhecidas como assim ou como assado nos seus grupos de referência, elas também buscam se amoldar a esses grupos, abrindo mão de parte de sua individualidade e cedendo às exigências coletivas de conformidade. É um dos reflexos sobre os indivíduos de uma dinâmica social complexa na qual, por um lado, o sucesso individual é esperado, estimulado e premiado e, por outro, com a crescente importância dos movimentos e redes sociais e associações de todo tipo, o indivíduo é convocado a ser também um representante ativo de sua tribo, raça, grupo ou classe. É como aqueles jogadores de tênis de que falei. Cada um procura sua expressão individual dentro de um coletivo que simultaneamente ele representa perante outros grupos e que lhe fornece uma identidade e uma imensa segurança psicológica.
                Não é de se espantar a freqüência com que se pode observar episódios de explosão de violência social, amotinamentos, brigas de gangues, etc.
                Não estou dizendo que a moda está na raiz da violência social mas, pelo contrário, que a moda, com seus particularismos, que vêm crescendo nos últimos anos, é uma das manifestações mas superficiais de fenômenos sociais profundos, dos quais pode até mesmo ser, em parte, uma sintoma.

- Em sua opinião, quais são as perspectivas para o consumo nos próximos dez anos?

                É difícil fazer qualquer previsão sobre o dia seguinte ou mesmo sobre a próxima hora. Prever o que acontecerá daqui a dez anos torna-se então um exercício temerário, principalmente em termos de tendências de consumo, pois essa é uma dimensão sensivelmente influenciada pelo ambiente econômico.
                Certamente, pelos próximos dez anos, as pessoas continuarão a se alimentar e é provável que busquem meios cada vez mais satisfatórios de prover sua própria segurança. Tudo mais seria especulação arriscada. Mas há algumas tendências que podem ser apontadas.
                Cada vez mais é possível encontrar as mais diferentes opções de consumo, cuja sofisticação é também crescente e que, por suas características, são dirigidas a segmentos cada vez mais seletos. Isso pode criar problemas; aliás, já vem criando. As massas, embaladas pelo discurso hipnótico e politicamente correto da plena igualdade de direitos, extrapolam seus comportamentos como se esses direitos não se referissem à liberdade, à vida, à propriedade e à justiça, que são os direitos que se deve esperar em situações normais, mas desejam ardentemente exercer também seu direito inalienável de possuir bens de grifes como Prada, Guess, Tommy Hilfiger, Victoria Secrets, etc. Isso aparece claramente na motivação do jovem delinqüente que, armado, resolve levar não apenas o par de tênis de sua vítima, mas toda sua roupa. Ou ainda, está também em parte nas manifestações daqueles jovens londrinos que, amotinados, saquearam, tempos atrás, lojas específicas para se apropriar justamente de produtos de grifes famosas e caras. Não compartilho do falatório dos que buscam justificar essas ações criminosas como fruto da exclusão. Mas uma coisa é certa, e não é especulação no vazio, o potencial de violência social é cada vez maior. Há todo um campo de pesquisa antropológica que revela as relações entre disponibilidade e escassez de bens, o desejo de obtenção desses bens, a rivalidade decorrente da competição entre desejos e a explosão de violência dirigida a uma vítima expiatória. Curiosamente, não sei se por ignorância ou por malícia, todas as ações políticas e estatais que nominalmente foram concebidas para amenizar essa sensação difusa de exclusão social nas massas, pelo simples fato de concentrar cada vez mais poder de intervenção sobre a sociedade, acaba por reforçar aquilo que em tese estaria a combater. Esse é apenas um dos vários possíveis panoramas futuros quando tratamos de comportamento de consumo e como ele pode se entrelaçar inclusive com a dimensão política de nossas vidas. Veja que evitei até agora tratar de questões de caráter econômico. Não é um ambiente em que me sinto muito seguro. Mas posso arriscar dizer algumas coisas. Há uma crise anunciada que torna o horizonte ainda mais nebuloso e há ainda o histórico das relações entre grandes corporações financeiras e alguns grupos que exercem enorme impacto social, seja em nível regional, seja em nível mundial. Veja por exemplo as pouquíssimo conhecidas relações entre a Bolsa de Nova York (NYSE) e a guerrilha narcoterrorista das FARC, que assombrosamente movimenta em torno de um terço (1/3) do volume daquela bolsa de valores. É por isso que não foram gratuitas as visitas do chairman da NYSE, Richard Grasso, a Manuel Marulanda Vélez, o Tirofijo, comandante das FARC. Até mesmo no sepultamento de Marulanda, Grasso esteve presente. Esses fatos não foram noticiados por nenhum jornal brasileiro da grande mídia impressa, mas podem ser conferidos no BOONDOCKS e no TIMELINE, ou ainda no TRUE OUTSPEAK, todos disponíveis na internet. O que aqueles dois ficaram fazendo no meio do mato, ninguém sabe. Mas não se pode negar o que esse fato representa em termos de impacto social potencial, não só em nível local, mas também em nível mundial, seja na esfera política, econômica, de segurança e até de saúde pública. Ora, se narcoterroristas, contando com o poder das armas, com o dinheiro do narcotráfico e com apoio político em todos os continentes, passam a influenciar desse modo o maior centro financeiro do mundo e esse fato, absolutamente aterrorizante, passa totalmente despercebido, não sendo sequer noticiado no país, pode-se estimar o quanto que a manipulação de informações pode impactar a vida das pessoas. Pense então no potencial de influência que associações desse tipo podem exercer nos mercados, onde grandes grupos, que já não admitem concorrência, podem lotear imensos setores de produção e vendas, estabelecendo quem, como e onde podem ou não ser produzidas essas ou aquelas mercadorias.
                Ora, como se disseminam as tendências da moda e os estímulos para o consumo? Não é precisamente através dos meios de comunicação que deixam de informar essas gigantescas negociações? Parece-me que, diante dessa realidade temível, a moda também pode cumprir o duplo papel de tapa-buracos e de anestésico.

- O que você considera prejudicial para quem fornece e para quem consome?

                Consome o quê? E fornece o quê? Se você estiver falando do narcotráfico, a omissão dessas informações só favorece o comércio de drogas e seus grandes negociadores e, por outro lado, o consumo e todas as outras atividades ligadas às drogas continuarão ceifando vidas.
                Agora, se você estiver falando do consumo de moda, bem, de certa forma, essa pergunta é um estímulo para continuar a discussão iniciada pela questão anterior. Mas, antes, é necessário fazer algumas distinções. Pode-se tratar a questão em dois níveis: o micro, mais próximo, e o macro, mais distante de nossa percepção imediata.
                No nível micro, o que pode prejudicar o fornecedor ou o comerciante é, em primeiro lugar, investir pesado em tendências que se revelem de pouco apelo, o que obviamente fará com que tenha prejuízo. Mas, isso é apenas o dado mais imediato com que ele se defrontará. Em segundo lugar, parece que principalmente o pequeno comerciante não é suficientemente capacitado a gerenciar preços e marcas. Há, além de muito amadorismo, um comportamento francamente imoral o qual muitos se esforçam em justificar por meio do ataque à concorrência, isso quando não ocorre uma descarada cartelização do mercado; quanto ao gerenciamento de marcas, no sentido de difundir e explorar as qualidades de seus produtos e serviços, observa-se o mesmo amadorismo: lojas mal arrumadas, desorganizadas, com iluminação deficiente, péssima disposição e falta de mercadorias, desconfortáveis e, o que talvez seja o pior, funcionários despreparados para lidar com o público e que por vezes ignoram completamente o rol dos produtos do tipo de comércio em que trabalham, e o comércio da cidade de Resende padece profundamente desses males. Junte-se tudo isso: o amadorismo dos comerciantes e o despreparo dos funcionários – e teremos diante de nós as duas maiores causas de falência ou de extinção de casas comerciais e do assombroso tur-over, a migração de empregados entre as mais diversas lojas e tipos de comércio.
                Quanto aos fatores que prejudicam o consumidor, eles são, de certa forma, simétricos àqueles prejudiciais aos fornecedores e consumidores: preços muito altos, fruto de uma combinação perversa de alta tributação e margens de lucro irreais; escassez de opções, devida ao baixo nível de concorrência e uniformização de preços; lojas desconfortáveis e desorganizadas; falta de mercadorias e uma qualidade de atendimento abaixo da crítica têm tornado a vida do consumidor um inferno e feito do ato de compra uma das atividades mais estressantes, quando deveria ser exatamente o contrário.
                No nível macro há também essa graduação do mais próximo para o mais distante. O que hoje tem severamente prejudicado tanto fornecedores quanto os comerciantes, vendedores finais, é uma série de fatores que vão desde a indevidamente excessiva intromissão da pesada mão estatal que aplica escorchante tributação sobre produtos e serviços até à deficiente logística, seja no planejamento, execução ou ficalização da distribuição, seja em conseqüência das graves limitações de uma infraestrutura que não se renova em escala há uns trinta ou quarenta anos, vendo-se incapaz de atender às crescentes necessidades logísticas. Além disso, como disse anteriormente, quanto maior e mais impacto causar uma organização ou um conglomerado no mercado, mais ele tende a boicotar a livre circulação de mercadorias e, se possível, a lotear as diversas atividades fazendo com que certas regiões se especializem na produção de bens específicos, numa espécie de terceirização da produção. Ao adotarem esse procedimento, as grandes companhias e os conglomerados conspiram contra a lógica da livre concorrência, aquela mesma que os fez prosperar. Isso se reflete diretamente na vida dos consumidores que têm de arcar com as variações de preços decorrentes e com a restrição de acesso a determinados bens. E isso não parece ser um fenômeno restrito ao mercado de moda, parece ser uma tendência de maior alcance.

- Como psicólogo, qual sua contribuição final sobre o mercado de moda masculina?

                Já disse e vou repetir: não sou um grande consumidor de moda.
                Nesse aspecto, busco muito mais a funcionalidade e meu conforto, se a aparência não agrada a uns ou a outros, problema deles. Acho que a moda é também um esforço desesperado que fazemos para esconder nossa miserável deselegância. Somos bregas demais! Muito bregas mesmo! E não é recorrendo aos recursos da moda que esconderemos nosso estado lastimável, pelo contrário, quanto mais apelamos à moda, mais mostramos que somos bregas. Veja você, uma vez um professor me contou a seguinte história: ele tinha sido convidado para uma festa de aniversário de um diplomata brasileiro muito famoso. Era uma festa a rigor. Lá pelas tantas, todo mundo de smoking, o próprio aniversariante se aproximou do professor e disse o seguinte: “Veja o senhor a que ponto nós chegamos: um diplomata no auge de sua elegância fica parecendo um garçom”. Não é ridículo isso?!
                Tempos atrás, no mais paralisante estado de perplexidade, acompanhamos a onda metrossexual. Você já viu coisa mais apavorante? Naquela época, a revista Veja, em contraponto, publicou uma matéria sobre homens que não se vestiam nem se arrumavam de acordo com as tendências ou ditames da moda. Parece que a matéria foi até feita por duas jornalistas, duas mulheres. Na conclusão da matéria, elas foram direto ao ponto: “um homem mal arrumado é uma tocante confissão de masculinidade”. Desde que não se leve essa frase ao extremo, deve-se considerar elas tinham lá suas razões para escrever isso naquela época.
                Não vejo como essa minha resposta poderia ser uma contribuição para o mercado de moda masculina. Acho até que seja o contrário.

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